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- por Thiago Brayner
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Proteção judicial: o que mudou para a Ambipar?
Na tarde de 24/09/2025, a 1ª Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro concedeu à Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. um provimento judicial que pode ser o primeiro passo para um processo de recuperação judicial. Esse remédio provisório impede que credores tomem medidas imediatas de cobrança, dando à empresa um fôlego para reorganizar suas finanças.
A decisão chegou num momento crítico: a companhia já enfrentava forte pressão de mercado, com queda nas vendas de serviços ambientais e um aumento nos custos de financiamento. Além disso, o clima interno estava turbulento, já que a diretoria financeira foi reestruturada no início do ano, com a nomeação de Ricardo Rosanova Garcío como CFO e IR, substituindo João Daniel Piran de Arruda e Pedro Borges Pedersen.
Vale mencionar que Pedro Borges Pedersen está sob investigação da CVM por supostas irregularidades na recompra de ações realizada em 2024, o que gerou dúvidas sobre a governança da empresa e acabou alimentando a percepção de risco dos investidores.

Repercussões financeiras e estratégicas
Um dia após o alívio judicial, a Fitch Ratings fez um rebaixamento drástico, mudando o IDR da Ambipar para “C”. O mesmo rating foi atribuído às debêntures emitidas pela controlada Ambipar Lux S.a.r.l. Esse corte indica que o mercado vê a companhia como altamente vulnerável a inadimplência.
A Fitch ainda manteve a perspectiva negativa para a dívida local, lembrando que os problemas de governança podem encarecer ainda mais a captação de recursos. A empresa, por sua vez, já havia anunciado em setembro de 2025 uma operação de debêntures em duas etapas, com objetivo de levantar até R$ 3 bi (cerca de US$ 560 mi). O plano seria usado para refinanciar dívidas existentes, principalmente obrigações de longo prazo que representam 95% do total da dívida, com prazo médio de amortização de 5,5 anos.
Enquanto isso, o balanço do primeiro trimestre de 2025 mostrava R$ 5,0 bi em caixa e equivalentes, mas também um resultado financeiro recorrente negativo de R$ 386,8 mi, reflexo do aumento dos encargos de juros.
Para ilustrar a situação, segue um resumo das principais ações e desafios da Ambipar:
- Proteção judicial que impede execuções imediatas por credores;
- Rebaixamento da classificação de crédito para ‘C’ pela Fitch;
- Investigação da CVM sobre a recompra de ações e possíveis práticas irregulares;
- Captação planejada de R$ 3 bi via debêntures para refinanciamento;
- Déficit financeiro de R$ 386,8 mi no Q1/2025, apesar de caixa robusto.
O setor de serviços ambientais, onde a Ambipar atua – em gestão florestal, reflorestamento, proteção de ecossistemas marinhos e projetos de restauração – tem se mostrado resiliente, mas não imune a choques de crédito. A empresa já emitiu US$ 400 mi em bonds internacionais em janeiro de 2025 e debêntures em maio de 2024, demonstrando capacidade de acessar diferentes mercados, porém com custos cada vez mais elevados.
Quanto à reestruturação acionária, a assembleia geral anual de 30/04/2025 definiu o valor de resgate das ações em R$ 9,75 por título, baseado no valor contábil do balanço de 31/12/2024. Essa medida visa oferecer segurança aos investidores caso a empresa siga para um plano de recuperação judicial.
Em síntese, a Ambipar está em uma encruzilhada: precisa equilibrar a necessidade de capitalizar sua operação, lidar com as investigações regulatórias e restaurar a confiança dos credores. O próximo passo será a consolidação do plano de debêntures, que pode determinar se a proteção judicial será apenas um alívio temporário ou o início de um processo mais amplo de reorganização financeira.
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